Balneário e Área Rústica
A cerca de 40 metros, a norte da pars urbana, encontra-se o balneário que servia a villa. São bem visíveis os fundamentos do que era a fornalha. A sul, temos a estrutura de aquecimento sobre arcaria, os tanques impermeabilizados com opus signinum e as canalizações.
No balneário, agora descoberto, é notória a preocupação de manter o fogo afastado das outras construções da área residencial e da área rústica, como manda uma das normas antigas e fundamentais de segurança na prevenção contra incêndios. A localização do fogo, a norte da villa urbana, destina-se a evitar que esta fonte de calor contribua para o aumento de temperatura no interior da residência, pois esta já conta com o aquecimento solar, uma vez que o sol se apresenta a sul. Quanto à boca da fornalha, vemo-la virada a sul e, assim, protegida dos ventos dominantes do norte. O caldário é também rigorosamente orientado a sudoeste, de modo a aproveitar ao máximo o calor dos raios solares, à tarde.
O espaço do apodyterium (do grego apodyterion) ou vestiário, no balneário do Rabaçal, tem a forma quadrangular. Seria abobadado? Não era aquecido. Possuía, muito provavelmente, uma fonte para lavagens parciais pois, aí, foi descoberta uma pia de lavatório de calcário, deslocada do seu lugar de origem. A outra descoberta, concretamente de um fragmento de cano de chumbo (solto), e o reconhecimento da existência de uma canalização que atravessa esta sala, com pavimento bem conservado de opus signinum, tornam esta hipótese credível. A canalização pressente-se pelo toque a oco que ouvimos quando batemos em algumas zonas daquele pavimento. Teria bancos ao longo das paredes, como se vê ao lado do frigidário, providos de almofadas ou tapetes sobre o qual os banhistas se podiam sentar enquanto se despiam ou esperavam para iniciar o percurso. As paredes poderiam ter nichos - compartimentos onde podiam estar encastrados armários para o depósito de roupas ou de outros eventuais objectos pessoais.
O caldarium(ou calidarium), de forma rectangular absidada, era provavelmente coberto por uma abóbada de berço, como nos sugerem os tubos de abóbada e as tijoleiras (com recantos) dos arcos ali descobertas, que suportariam a referida abóbada. Foram já encontradas duas banheiras (alveus) semicirculares para o banho de imersão e aspersão. Como vimos, esta sala quente foi construída com dispositivos e precauções técnicas. Foi, ainda, decorada com estuques em relevo. Para o já referido aproveitamento do calor natural dos raios solares, à tarde, todo o bloco de construção balnear pode ter sido, como era comum, dotado de amplas janelas, fechadas com várias placas de vidro opaco, montadas numa grade de ferro.
As instalações do tepidarium, de dimensões mais reduzidas do que o caldário, eram providas de um aquecimento moderado, por se encontrar a paredes meias com a zona mais aquecida do balneário. Era dotado de um banco corrido, construído ao longo da parede deste compartimento. Este espaço de uso facultativo podia, ainda ser dotado de nichos ou armários para depositar roupas.
O frigidarium é formado, como vimos, por um tanque e respectivas escadas de acesso. Nalguns casos a piscina a céu aberto, ou natatio, completava, acrescida do tanque do frigidário, a "secção" de banho frio. A natatio não parece ter sido incluída no plano de conjunto deste balneário.
Como se sabe, o banho para os romanos representava mais do que uma simples operação higiénica: era igualmente um meio preventivo de doenças pelo recurso que fazia à massagem, à corrida, à luta, à natação, ao banho de vapor, ao papel tonificante da água fria. Finalmente, o banho era uma distracção, um lugar e uma oportunidade de convívio social.
O banho estava sujeito às fantasias de cada um, para além da moda, das convicções e das especulações dos médicos. Foi Asclepíades, no tempo de Pompeu, quem prescreveu o banho frio, o qual agradava sobretudo aos jovens que se banhavam, com orgulho, no Tibre e em fontes muito frias da cidade.
Havia, contudo, um código de regras bem definidas pela medicina, de modo a fazer-se um banho correcto. Compreendia essencialmente quatro fases:
1 - Um tempo de permanência numa sala sobreaquecida para se conseguir uma transpiração abundante;
2 - Um banho de água quente para retirar a transpiração;
3 - Um banho de água fria para tonificar;
4 - Massagens e fricções.
A estas operações correspondia uma série complexa e variável de instalações que compreendiam, como vimos no caso concreto do balneário privativo do Rabaçal, três áreas principais: frigidarium com uma banheira de água fria; tepidarium que é, sobretudo, uma sala de repouso e aclimatização; o caldarium dotado, provavelmente, de banheiras de água quente.
O acesso fazia-se pela área noroeste da construção, entrando numa sala ampla de planta quadrangular, ainda não totalmente descoberta, com função de vestíbulo (apodyterium). À esquerda da entrada, encontra-se um tanque quadrangular para banho frio, ao qual se subia pelos dois degraus que externamente acompanham toda a parede oeste do dito tanque e do qual se descia pelas escadas que ainda se conservam no interior do seu topo sul.
No lado sul do vestíbulo estão abertas duas portas. Uma, a meio desta parede, faz a ligação com a zona quente, construída sobre o hipocausto. Trata-se, como vimos, de um sistema subterrâneo com pequenos arcos de tijolo, sobre os quais assenta um pavimento composto por telhões que canalizavam o ar quente, e uma espessa camada de argamassa (assenta sobre telhões ou tijoleiras), feita de tijolo moído, cal e areia que funcionava como impermeabilizante. A outra porta de passagem do vestíbulo para o tepidário (entulhada toscamente numa fase posterior) encontra-se aberta no topo sul da parede este do vestíbulo.
Os outros espaços do interior do caldário, ainda não totalmente descobertos, destinavam-se ao suadouro e ao banho quente.
A fornalha, normalmente com boca forrada de pedra refractária, situado num dos lados menores (sul) do compartimento rectangular sobre o hipocausto, fornecia o calor necessário ao aquecimento da sala, das banheiras e da água depositada em caldeiras de bronze ou cobre, hoje desaparecidas ou ainda não localizadas.
As zonas do serviço tinham espaço suficiente para armazenar bastante lenha com a qual os servos alimentavam o aquecimento.
Subindo a encosta, também a cerca de 40 metros, podem observar-se os fundamentos da villa rústica (alojamento dos servos domésticos e agrícolas) e villa fructuaria, onde deverão ser localizados, com prosseguimento dos trabalhos arqueológicos o celeiro, o lagar, os estábulos, os alpendres e outros. Estas instalações estariam, como é natural, em ligação directa com o fundus ou propriedade agrícola, através de caminhos privados (PESSOA, RODRIGO, SANTOS, 2001, p. 49-51).