Etnografia
A etnografia, no concelho de Penela, tem muito para explorar. Englobando um território mais vasto, encontramos manifestações semelhantes em toda a região e de algum modo em todo o país.
Ao nível da criação mitológica e de tradição oral sabemos de variadas lendas, intimamente ligadas à História de Penela: a sua conquista (“Pé Nela”) e os irmãos ferreiros dos montes Germanelos. Outras histórias de tradição oral em que evocam reis e rainhas, tal como Afonso Henriques ou Isabel de Aragão, a Rainha Santa, são ainda ouvidas.
Numa perspetiva mais nacional encontramos em todo o Portugal rural, as “alminhas”, zelando pelos caminhantes e destruindo os maus auspícios nas estradas cruzadas, conjugando as tradições pagãs com o culto supervisionado pela Igreja. Em cada localidade de Penela encontramos um nicho num muro, uma pequena capelinha, um pequenino altar com as figuras do Cristianismo mais chegadas aos coração dos habitantes desses lugares. Uma continuidade de credos, mas também de obras de arte religiosa e popular.
Ainda ligados de algum modo a essa índole popular e cultual, durante todo o ano civil e litúrgico são realizadas imensas festas e romarias.
Por outro lado, intimamente ligadas à prática da agricultura, são as feiras, como é o caso da Feira das Nozes em setembro, a par da de S. Miguel, sendo uma continuidade da tradição da Feira Franca do século XV, perdurando, assim como a de S. Sebastião em janeiro. Obviamente reformulada ao longo das décadas, levadas para o nível cultural, artístico e económico.
O folclore é outro meio de o povo se manifestar na sua mais sincera forma. Por isso, o associativismo cultural tenta reativar em momentos de lazer, as festividades dos antepassados não tão distantes. Contribui para isto o Rancho Folclórico do Rabaçal. De algum modo as bandas filarmónicas de Penela e do Espinhal dão continuidade ao associativismo cultural e filantrópico, com música um pouco mais erudita, num registo formal e austero de outros tempos, mas festivo e num espírito de comunhão da atualidade também.
A peculiaridade do mundo rural e a sua identidade transparente pode ser encontrada ao nível regional das aldeias do xisto e do calcário, neste caso pertencentes às serranias da Lousã (com a aldeia da Ferraria de São João) e do outro extremo do município as Aldeias de Calcário do Sicó, com o destaque para Chanca, no Rabaçal. Comunidades muito próprias, castiças e com características que conjugam a arquitetura das habitações e anexos, sua matéria-prima, o tipo de agricultura e pecuária, a silvicultura e todo o rendimento possível retirado do meio onde se inserem, numa perspetiva maniqueísta de comunhão ou embate com a Natureza.
Subsidiárias destas comunidades são igualmente o modo como estas se adaptavam às tecnologias tradicionais existentes para transformação da matéria-prima em produtos manufaturados: os meios de produção artesanais – azenhas, moinhos de vento, fornos comunitários de pão e cal, etc. Em Penela existem inúmeros vestígios de azenhas, nomeadamente na zona este, na serra do Espinhal, e no sul, ao passo que no centro do concelho encontramos moinhos de vento muito peculiares, que giram sobre si conforme a direção do vento. Encontramos, no Monte de Vez e na Carregã, dois exemplos similares ao que vamos encontrar no concelho vizinho de Ansião.
No seguimento desta perspetiva de produção agrícola e manufatureira (a cal e o carvão, por exemplo, também eram produzidos localmente – temos a existência de um forno na estrada para o Melhorado e de dois modernos no Espinhal), a preservação de tecnologia artesanal de cultivo agrícola, como alfaias de todo o tipo é um motivo para estudo deste género de aparelhagem rudimentar, eficaz em tempos idos. A Comissão de Melhoramentos de S. Sebastião guardou alguns utensílios e felizmente vamos encontrando outros nas mãos de particulares, tal como arados, charruas, grades, cangas, entre outros.
Em termos gastronómicos, os ritos de confeção de alimentos estão de acordo com a época do ano em que os produtos estão disponíveis. O famoso queijo do Rabaçal, cobiçado há algumas centenas de anos, é um desses manjares característicos do vale do Rabaçal, onde o humano se conectou com a pastorícia de gado ovino e caprino e seleção natural de ervas para intensificar o paladar. Esta característica está igualmente ligada a um território mais vasto, as Terras de Sicó. A quantidade e a qualidade dos produtos endógenos, como o queijo, as nozes, a broa ou o mel fazem do concelho penelense um território a conhecer numa visita rápida ou num percurso imersivo no quotidiano das comunidades locais, rurais e humildes.